sexta-feira, 23 de maio de 2008

“A Noite Americana”, de François Truffaut (França/Itália, 1973)



Grandes diretores adoram fazer declarações de amor ao cinema. Giuseppe Tornatore e seu “Cinema Paradiso”, Bernardo Bertolucci e “Os Sonhadores” e Pedro Almodóvar e “Má Educação” são alguns exemplos. O francês François Truffaut também prestou sua homenagem à Sétima Arte em “A Noite Americana” (“La Nuit Américaine”), filme que lhe valeu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 1974. Um dos principais nomes da Nouvelle Vague, movimento de renovação da linguagem cinematográfica surgido na França, nos anos 1950, Truffaut fez de “A Noite Americana” um filme, digamos assim, mais convencional, sem pretensões na forma narrativa. É uma declaração de amor ao cinema, mesmo. Simples e emocionante. E como funciona.

“A Noite Americana” é metalingüístico, um filme sobre a realização de um filme. Truffaut participa como ator, fazendo o papel de... diretor. O cineasta interpreta Ferrand, realizador do longa “A Chegada de Pâmela”, drama(lhão) familiar sobre uma moça – cuja intérprete é vivida pela bela Jacqueline Bisset (foto) – recém-casada que se apaixona pelo sogro. Em meio às gravações, Ferrand precisa administrar os problemas técnicos, os chiliques dos atores e as paixões que acometem membros da equipe. E também, é claro, escolher a cor do carro da protagonista, escrever um novo diálogo para a próxima cena a ser gravada e ouvir (por telefone) a música que encomendou para a trilha sonora. “Fazer um filme é como uma viagem de carroça pelo Velho Oeste. Você começa rezando por uma viagem tranqüila. Depois, quer chegar logo”, filosofa Truffaut – ou melhor, Ferrand –, numa cena em que conversa com o produtor de seu filme.

O que deslumbra o espectador em “A Noite Americana” é, simplesmente, o cinema. O processo de feitura de um filme vira, através das lentes de Truffaut, um espetáculo sobre a feitura de um filme. Nada de subversões narrativas, nada de riqueza psicológica dos personagens, nada de muito genial – o cinema, por si só, é o que impera em “A Noite Americana”. Apenas reitero o quanto isso é fascinante, e não preciso falar mais nada.

P.S.: Aliás, preciso, sim: a expressão “Noite americana”, como Truffaut – ok, Ferrand – explica no filme, denomina a técnica, criada nos EUA, de gravar cenas de dia com um filtro especial na câmera, para que pareça noite. É uma referência de Truffaut ao poder de ilusão que o cinema possui. Pronto, agora acabou.

(Lucas Colombo)

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