terça-feira, 29 de julho de 2008
“Um Cão Andaluz”, de Luis Buñuel e Salvador Dalí (França, 1929)
Um homem corta o olho de uma mulher com uma navalha. Formigas brotam da mão deste mesmo homem. A mulher, aparentemente, vive em um centro urbano, mas, em um dado momento, abre a porta de casa e vai caminhar na beira da praia. Ao tentar aproximar-se da mulher, o homem arrasta um piano, e, do nada, surgem dois animais mortos em cima do instrumento. De repente, o homem, ainda na tentativa de chegar à mulher, começa a arrastar, além do piano, também dois padres.
Cenas improváveis – mas bastante sugestivas – como estas causaram escândalo no público em 1929, ano em que “Um cão andaluz” (“Un chien andalou”), de Luis Buñuel e Salvador Dalí, foi lançado. O filme, considerado um marco do Surrealismo no cinema, saiu em DVD em 2005, em edição conjunta com “A idade do ouro” (“L’Age d’Or”), também realizado pela dupla, em 1930.
Com Buñuel e Dalí, um dos movimentos artísticos mais significativos do século XX chegava às telas de cinema. O Surrealismo pautava-se pela valorização do sonho, da fantasia e do inconsciente e pela abolição da linearidade e do nexo. É exatamente isto que se vê em “Um cão andaluz”. Não há coerência na história. A situação dos personagens é absurda e sem explicação imediata. A montagem é caótica, com planos sem encadeamento lógico. O filme aparenta ser um longo devaneio.
Buñuel e Dalí conheciam-se desde a adolescência. Depois de fundar o primeiro cineclube da Espanha e trabalhar como assistente de direção de Jean Epstein em Paris, Buñuel convidou o amigo artista plástico para colaborar na produção de seu primeiro filme. Os dois, já fortemente influenciados pelas idéias surrealistas, combinaram que comporiam as imagens com base em seus delírios criativos, desde que entrassem no roteiro, porém, apenas as sugestões que fossem consenso entre eles.
“Um cão andaluz” foi rodado em apenas 15 dias, ficando com 17 minutos de duração. Foi exibido pela primeira vez em Paris, para uma platéia de intelectuais (entre eles o poeta André Breton, autor dos “Manifestos do Surrealismo”), ao som de “A Cavalgada das Valquírias”, de Richard Wagner, e de um tango argentino, executados em um gramofone. Ao final da projeção, o jovem Buñuel foi aclamado pelos presentes, contrariando as expectativas do diretor – temeroso da reação ao filme, ele havia levado pedras nos bolsos, para revidar uma possível agressão da platéia. A boa recepção inicial, contudo, não evitou que o cineasta espanhol tivesse problemas. Sua casa foi alvo de ataques de grupos conservadores, que tentaram, sem sucesso, impedir a exibição da obra na França. “Um cão andaluz”, como se pode perceber, é uma verdadeira obra subversiva, em todos os sentidos do termo.
P.S.: Luis Buñuel morreu há 25 anos, em 29 de julho de 1983. Faz falta.
(Lucas Colombo)
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Postado por Mínimo Múltiplo às 03:05
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Um comentário:
Muito bom o blog!
Vou passar mais por aqui!
Hasta!
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