quinta-feira, 2 de abril de 2009
Quatro Perguntas para Sérgio Rodrigues
E eis que surge a nova seção do blog: Quatro Perguntas consistirá num bate-papo rápido com gente interessante da cultura, do jornalismo, das ciências, etc etc. Da política, também. Talvez. Será difícil encontrar um político brasileiro com algo de conteúdo para declarar, mas tentaremos.
O MM, que já contava com a seção Entrevista no site, abre agora mais este espaço. Quatro perguntas, a partir das quais já será possível se saber muita coisa.
Explicações dadas (e nariz de cera terminado), vamos a Sérgio Rodrigues. O jornalista e escritor publicou, em março, o romance "Elza, a Garota", em que apresenta a história da adolescente Elvira Cupello Calônio, assassinada por ordem do Partido Comunista Brasileiro em 1936. Amante de um membro do partido, Elvira, codinome Elza Fernandes, foi acusada de ter delatado companheiros de 'luta', que estavam sendo perseguidos pelo governo Getúlio Vargas após a Intentona Comunista, fracassada tentativa de Luis Carlos Prestes de tomar o poder no país, em 1935. Um caso obscuro do passado brasileiro, do qual nem a "esquerda" (por motivos óbvios) nem a "direita" (por criar paranoia em torno do fato) saem bem.
Aqui, Sérgio fala, além do novo livro, também da infantilidade de se pensar em internet e jornal como meios excludentes ("esse quebra-pau que vemos hoje entre os fanáticos do meio digital e os fundamentalistas do papel me aborrece um pouco") e do finado NoMínimo ("Foi um trabalho bem feito, sem dúvida"), o mais prestigiado site jornalístico da história da internet no Brasil, do qual foi editor e titular da coluna literária "Todoprosa", hoje seu blog. Confira.
(Lucas Colombo)
1. Caro Sérgio, você tem uma coluna ("Palavra da Semana") na Revista da Semana e mantém o blog Todoprosa, atualizado quase diariamente. Quais são os pontos positivos e negativos de cada gênero, coluna semanal e blog? E ainda: você concorda que internet e jornal/revista não são meios excludentes?
Sérgio - Não acho que a questão da periodicidade tenha tanta importância além da óbvia, claro, que é a freqüência com que você é obrigado a se ocupar do trabalho. Os meios, sim, acabam influenciando muito mais o tipo de informação e a própria linguagem. Mas esse quebra-pau que vemos hoje entre os fanáticos do meio digital e os fundamentalistas do papel me aborrece um pouco. Parece bem evidente que os meios estão destinados a conviver, pelo menos por um longo tempo ainda. Não vejo nada de excludente neles, pelo contrário - acho que são complementares e isso pode e precisa ser mais bem explorado do que está sendo.
2. Você foi editor-executivo e colunista do NoMínimo, que, com seu conteúdo de alto nível e grande interatividade com o público, foi a melhor revista eletrônica já criada "nessepaís" (como diz o presidente). O site parou em 2007, por uma revoltante falta de anunciantes, e deixou muitos leitores órfãos, entre eles, eu (a chegada do As Últimas nos deu um pouco de alegria...). O NoMínimo, porém, marcou época na internet brasileira e foi referência para muitos outros projetos, inclusive pro Mínimo Múltiplo... Hoje, quase dois anos depois do fechamento, você e a turma já têm cristalizada a ideia de que "fizeram história"?
Sérgio - O fim do NoMínimo foi traumático para toda a equipe que o fazia. Acho que posso generalizar e dizer que todos nós, hoje espalhados por aí, ainda nos sentimos meio órfãos, provavelmente mais do que os leitores. Mas quanto a "fazer história", mesmo agradecendo a sua generosidade, devo dizer que acho um exagero. Foi um trabalho bem feito, sem dúvida, e sinto orgulho dele. Mas o jornalismo sempre se mexeu muito rápido e agora, na internet, ficou mais veloz ainda. Daqui a pouco tempo, quando se falar em NoMínimo, a reação mais normal será: Hã? O quê? E é saudável que seja assim.
3. Em "Elza, a Garota", você narra um episódio pouco conhecido do nosso passado. Imagino que a pesquisa tenha sido trabalhosa - afinal, é o típico caso sobre o qual não há interesse em manter muita documentação, não? Você disse numa entrevista recente que chegou a se arrepender de ter aceitado a encomenda da editora Nova Fronteira - um livro de não-ficção sobre a história -, até que teve a ideia de transformá-lo em romance...
Sérgio - Bom, o projeto de fazer um romance sobre essa história era tão ambicioso e cheio de armadilhas que, na verdade, me arrependi bem mais depois que tive a idéia de trabalhar o tema como ficção. Para piorar, o prazo acordado com a editora era curto. O pânico só começou a diminuir quando decidi que, se no fim das contas tivesse nas mãos um livro que considerasse ruim, simplesmente não o entregaria à editora e pronto. O resultado acabou sendo mais que satisfatório.
4. Este é seu segundo romance. Entre "As Sementes de Flowerville" (2006) e "Elza", o que mudou? O fato de o primeiro ter recebido resenhas elogiosas (algo que está se repetindo agora) aumentou ou diminuiu sua autocrítica como escritor?
Sérgio - Minha autocrítica não cresceu, ainda bem. Sempre foi muito grande e poderia virar auto-sabotagem se passasse de um certo ponto. "Flowerville" era de certa forma um livro de estréia, embora eu já tivesse publicado um volume de contos, "O homem que matou o escritor". Não renego meu primeiro romance de forma alguma, mas "Elza" é muito mais ambicioso, mais profissional e mais maduro. É meu melhor livro, sem dúvida.
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Um comentário:
Legal o papo. Também era fã do No Mínimo.
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