sexta-feira, 15 de maio de 2009

“Doutor Jivago”, de David Lean (Estados Unidos, 1965)



Julie Christie é loira, de olhos azuis e linda. E o filme que a consagrou, “Doutor Jivago” (“Dr. Zhivago”), é uma superprodução de época que conta uma história de amor. Então, se o filme é grandioso, a protagonista é uma "estrela" do cinema e a história apresenta um caso de amor em meio a revoluções e guerras, estamos diante de um filme memorável, certo? Afraid not. “Doutor Jivago” é uma superprodução, mas não é aquilo que se pode chamar de obra-prima cinematográfica. Tirando os bonitos planos de paisagens e as imponentes cenas de passeatas políticas e de batalhas da 1ª Guerra, não sobra muita coisa. Por debaixo da produção grandiosa, há uma história de amor açucarada, rasa.

O romance entre o médico e poeta Yuri Jivago (Omar Sharif) e a enfermeira Lara (Julie), na Rússia dos tempos de Revolução, não arrebata. Falta intensidade no envolvimento dos personagens. Falta emoção. Se a relação entre Yuri e Lara fosse mais ‘monumental’, os aspectos ‘monumentais’ da feitura de “Doutor Jivago” seriam até dispensáveis. Simplificando bastante as coisas, dá para afirmar que um filme precisa contar bem uma história boa. Para atingir este objetivo, nem sempre são necessários uma produção suntuosa ou efeitos especiais de última geração. Não é uma superprodução que torna um filme uma obra-prima. E, de novo, “Doutor Jivago” é assim: um monumento do ponto de vista visual, mas com um conteúdo que deixa a desejar.

Dirigido por David Lean, o mesmo responsável por “Lawrence da Arábia”, o longa (bem ‘longa’ mesmo: 3h20min) é uma adaptação do livro do escritor russo Boris Pasternak. Teve locações na Espanha e na Finlândia. Os atores, Sharif e Julie, são carismáticos, mas, na maioria das vezes, não acertam o ponto. Suas interpretações não impressionam, feito o romance que protagonizam. Geraldine Chaplin, filha de Charles, também tem uma atuação discreta como Tonya, esposa de Yuri. Fatos importantes da Revolução de 1917, como a chegada ao poder dos bolchevistas, a expropriação de casas e prédios e o assassinato do antigo czar e sua família, são apresentados com um tom crítico, mas sem possibilitar grandes reflexões. A superprodução está ali meio que para disfarçar a fraqueza da história. O filme acaba ficando sufocado em meio a tanta imponência.

Há, porém, a trilha sonora... há o “Lara’s Theme”... aquele composto pelo recentemente falecido Maurice Jarre. Uma das trilhas mais conhecidas da história do cinema. A música de “Doutor Jivago”, sim, é marcante. Pena que a história que embala não o seja.


(Lucas Colombo)

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