quarta-feira, 10 de junho de 2009

Festival de Besteiras que Assola o País


Tragédias como a do voo 447 da Air France geram comoção no mundo inteiro, e não é para menos. É algo chocante, lamentável, e o fato de que as causas
do acidente poderão demorar meses para serem esclarecidas é realmente aflitivo. Mas também é de se lamentar a capacidade que os políticos da Pátria Amada têm de disparar o botão da falastrice diante de momentos críticos como esse. Não bastam os "místicos" dizendo estar na numerologia a razão para o desastre e os engraçadinhos fazendo associações com a série "Lost" - o presidente Lula e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, também tiveram de contribuir para o Febeapá com suas declarações infundadas e precipitadas.

Lula, por exemplo, achou que a hora era propícia para um de seus costumeiros arroubos nacionalistas a la Policarpo Quaresma e foi logo afirmando: Um país que pode achar petróleo a seis mil metros de profundidade pode achar um avião a dois mil metros”. O que uma coisa tem a ver com a outra, deusdocéu? Prospectar petróleo não é mesma coisa que procurar destroços de aeronaves, seja na profundidade que for. Vir com ufanismo em momentos de luto e comoção nacional não pode ser atitude mais deselegante. O presidente cumpriria muito melhor seu papel se orientasse a Marinha e a Aeronáutica a se esforçarem ao máximo para encontrar destroços e corpos e mandasse palavras de conforto às famílias das vítimas. Sonhemos com esse dia.

Quanto ao ministro Jobim, sua delicadeza e sua aversão a holofotes já são notórios. Lembram quando ele assumiu a Defesa no lugar de Waldir Pires, depois do acidente da TAM em Congonhas, dizendo na presença do ex-ministro que "o que faltava ali era comando"? E a destreza que ele exibiu ao averiguar e comentar a famigerada pista do aeroporto, como se fosse um grande especialista no assunto? E as tantas vezes em que ele apareceu vestindo farda, para não restar dúvidas de que ele é um 'comandante'? Isso tudo também não foi suficiente. Jobim teve que anunciar solenemente, na semana passada, para a imprensa do país e do mundo, que os primeiros destroços encontrados no mar eram do avião da Air France. Mas, opa!, descobriu-se depois que não eram. Ô, precipitação. Ô, vaidade. O ministro "bavard" ("falastrão", como o chamou a imprensa francesa), porém, disse ontem que não considera um erro ter-se adiantado ao exame das peças encontradas e que o importante era resolver "a angústia das famílias". Como se anunciar com certeza e para os quatro cantos uma informação não-confirmada ajudasse nesse sentido...

Ao ouvir tais bobagens ditas por nossos governantes na esteira dessa última catástrofe aérea, foi impossível não recordar o comentário da então diretora da ANAC, Denise Abreu (a do charuto, sabe?), na época da queda do avião da Gol, que, ao ser abordada pelas famílias das vítimas sobre o resgate dos corpos, tascou: "Vocês são inteligentes, o avião caiu de onze mil metros de altura. O que vocês esperam? Corpos?". E a reação do ministro Marco Aurélio Garcia, em meio à tristeza e à revolta pelo acidente da TAM, em 2007, de fazer gesto obsceno diante da notícia de que a desgraça poderia ter sido causada por falha mecânica, o que aliviaria a responsabilidade do governo. Desastres aéreos são sempre envoltos em mistério. Claro é apenas o que esperar das autoridades brasileiras nessas horas: declarações e atitudes estapafúrdias. O Febeapá agradece.

(Lucas Colombo)

Um comentário:

douglas vaccaro disse...

Que tal um FEBEAPÁ só com o Lula?