Além dos 50 anos da morte de Billie Holiday, 2009 também marca o cinquentenário do lançamento de "Time Out", do Dave Brubeck Quartet, o segundo álbum de jazz mais vendido da história (perde apenas para o igualmente cinquentão "Kind of Blue", de Miles Davis e cia.) e um dos mais inovadores, em termos de ritmo, do gênero. Clique no vídeo acima e veja Brubeck ao piano, Paul Desmond no sax alto, Joe Morello na bateria e Eugene Wright no contrabaixo tocando a surrada, mas nem por isso menos obra-prima, "Take Five", a terceira faixa do disco, composta por Desmond num inusitado compasso de 5/4.
Na época, em 1959, Brubeck viu a gravadora Columbia torcer o nariz para sua proposta de lançar músicas tocadas em compassos, até então, "estranhos" ao jazz, que fugiam aos tradicionais 4/4 ou 3/4 (valsa), aos quais, inclusive, as plateias já estavam acostumadas. Seguiu, contudo, o projeto e criou temas como o hoje também clássico "Blue Rondo a la Turk" (primeira faixa do álbum), uma mescla de jazz, música "erudita" e música popular turca executada alternadamente em compasso 9/8 (ufa!) e em 4/4, e "Everybody's Jumpin'" e "Pick up Sticks", desenvolvidos em 6/4. Nas outras composições, também inoculou ousadias rítmicas: em "Three to Get Ready", por exemplo, tempos de 3/4 e 4/4 se revezam, e, em "Kathy's Waltz", os mesmos se cruzam, proporcionando um suadouro ao ouvinte que tenta acompanhar tal 'cadência'... Mesmo carregando tantas experimentações, o LP acabou sendo lançado pela gravadora - e, surprise!, tornou-se um grande sucesso, vendendo milhares de cópias, num período em que o rock já começava a dar as caras, e a conquistar corações, no mundo da música. Isso porque, a despeito da complexidade rítmica, as composições de "Time Out" têm swing e melodias marcantes, o que justifica o fato de "Take Five", por exemplo, ter virado música "assoviável" até por quem não conhece jazz com profundidade.
Um dos discos mais presentes em coleções do estilo musical americano pelo mundo, "Time Out" é uma prova de que há, sim, vezes em que sucesso popular e qualidade artística andam juntos. Pouquíssimas, mas há. Os críticos que, em 1959, não perceberam o caráter inovador da obra e a condenaram por 'bulir' com a tradição rítmica do jazz hoje a reconhecem como "obrigatória". Quanto a Dave Brubeck, segue na ativa, em seus 88 anos. Saudemo-lo.
(Lucas Colombo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário