quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Insensata comparação




Ouço gente dizendo que assistir às séries americanas de TV é o mesmo que ser "noveleiro".

É uma simplificação, claro.

Quem acompanha as atuais séries americanas não toma contato com a mesma estética e o mesmo conteúdo de quem acompanha novelas. Toma contato com obras criativas muito mais satisfatórias.

A qualidade nem se compara. Todas as de que já vi episódios - Mad Men (promo acima), House, Law & Order SVU, The Tudors, Brothers & Sisters (a primeira temporada), Damages e outras já encerradas, como Sopranos e Seinfeld - apresentam grande cuidado na produção, com cenários e figurinos minuciosamente compostos. Por serem semanais e não diárias, são feitas com calma, o que se reflete, por exemplo, na fotografia, bem planejada, e não 'padronizada' como a que vemos por aqui. As cenas são mais longas; não há mudança frenética de planos, nem abuso de closes. Os enredos não duram meses. Há subentendidos, elipses e outras sutilezas narrativas que respeitam a inteligência do espectador. Há ritmo. Os diálogos são eficientes, sem chavões - quando há algum, é justamente para questioná-lo - e cheios de referências à arte e a questões políticas.
Os personagens não se dividem entre 'mocinhos' e 'vilões'; todos são ambíguos. Os atores são de verdade, não ex-modelos ou participantes de reality shows, e suas atuações são homogêneas.

Não tenho informação de haver um personagem tão fascinante como House na TV brasileira. Nem histórias intrincadas feito as de Law & Order. Nem textos que não abrem concessões ao politicamente correto como o de Mad Men, uma das melhores produções televisivas a que já assisti, cujos personagens, na Manhattan do início dos anos 1960, fumam, bebem e fazem piadas sexistas o tempo todo. Nem, salvo raríssimas exceções, atores com os recursos dramáticos de Glenn Close, Sally Field, Hugh Laurie, Jon Hamm, Mariska Hargitay, Edie Falco.

Se for para comparar os dois produtos, que seja para constatar a superioridade do lá do hemisfério norte, inclusive no trato com o público, nunca percebido como consumidor de um entretenimento banal e esquemático - como "noveleiro". Vinho não é suco de uva. Bom programa a todos.


(Lucas Colombo)

3 comentários:

Moziel T.Monk disse...

O nível das atuais séries americanas está muito alto se comparadas a produções de alguns anos, e os roteiros estão mais ousados e criativos se compararmos ao cinema americano, por exemplo, que anda muito preso a fórmulas consagradas e raramente surpreende e ousa, um problema bem parecido com as novelas brasileirs, verdadeiros blockbusters brazucas que dificilmente fogem à "receita de bolo" seguida há décadas. Além de que seguir uma temporada de 24 capítulos (às vezes 13) é bem mais "saudável" do que acompanhar uma novela por meses seguidos diariamente. Post bem pertinente, Lucas

Lucas Colombo disse...

Amigo Moziel, realmente as séries de TV americanas estão, hoje, acima de Hollywood. Os roteiros são mais inventivos, e as histórias, mais argutas, mais "dedo na ferida", do que a maioria das produções que os estúdios de lá põem nos cinemas. Já li que tem ocorrido certa "fuga de cérebros" do cinema para a TV, pois esta tem permitido ousar mais - e, de fato, os filmes que mais têm chamado a atenção, ultimamente, são adaptações de romances ou peças, não roteiros originais. Já viu Mad Men? É melhor do que qualquer filme que concorre ao Oscar deste ano. E um episódio dele é mais bem escrito do que todas as novelas brasileiras já feitas até hoje. Abraço!

Anônimo disse...

Eu assisto e amo Lei e Ordem SVU. Embora, eu confesso, vejo mais por causa dos belos olhos da Mariska. Affe!!! E ela ainda é super talentosa.