segunda-feira, 22 de setembro de 2008
No ar, Machado - II
O segundo e último especial que a GloboNews produziu sobre Machado de Assis, exibido ontem, manteve a qualidade do primeiro. O tema foi a obra do mestre, um homem que nunca saiu do Rio de Janeiro e, mesmo assim, foi o mais internacional dos escritores brasileiros do século 19, como bem frisou o apresentador Claufe Rodrigues. Vários aspectos da literatura machadiana foram comentados pelos entrevistados - o jornalista Daniel Piza e os acadêmicos Sérgio Paulo Rouanet e Antonio Carlos Secchin. Rouanet falou da influência de Shoppenhauer na obra de Machado (o pessimismo do filósofo alemão contribuiu para o ceticismo e a ironia do escritor carioca) e dos trabalhos em poesia do autor, que tinham caráter filosófico, especulativo - e são menos importantes que os trabalhos em prosa. Machado tinha 33 anos quando publicou seu primeiro romance, "Ressurreição", que trazia características românticas. Ele, no entanto, não apreciava o ideário do Romantismo, os personagens idealizados, a valorização do local, do nacional. Mesmo em seus romances "românticos" ("Helena", "A mão e a luva", "Iaiá Garcia" e o supracitado) já mostrava um certo distanciamento do estilo. Em 1880, então, durante uma temporada em Friburgo, ao lado de Carolina, para se recuperar de uma das várias doenças que teve, Machado elaborou os primeiros capítulos do romance que seria publicado no ano seguinte sob o título "Memórias Póstumas de Brás Cubas". E foi a revolução que foi. O humor, a verve crítica e a liberdade formal do texto eram inéditos na literatura que se produzia no Brasil, naquela época. Sobre "Dom Casmurro" e seu mistério infinito, Piza disse tratar-se de uma obra com "virtuosismo de sugestões", na qual o que se sabe é o olhar de Bentinho sobre os fatos, o que ele pensa ter acontecido entre Capitu e Escobar. O que não se sabe é o que não é narrado por ele. E essa é a grande questão.
"Machado de Assis: o bruxo das palavras" também citou a polêmica que Machado travou com o português Eça de Queiróz e as críticas que ele recebia de Sílvio Romero, seu "inimigo declarado". O sergipano Romero não gostava de Machado por considerá-lo "pouco nacional", pouco brasileiro, um autor que emulava o jeito de os autores ingleses escreverem (Machado é celebrado até hoje - e Romero, é lembrado por quem?). O programa tratou, ainda, da fundação da Academia Brasileira de Letras, da qual Machado foi o primeiro presidente, escolhido por unanimidade. Sim, ele foi consagrado em vida. Coisa para poucos.
A última pergunta do apresentador aos entrevistados foi: por que ler Machado? "Porque ele é bom", disse Rouanet, simplesmente.
É mais do que bom. É Machado. Leiamo-lo, então.
(Lucas Colombo)
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