segunda-feira, 15 de setembro de 2008

No ar, Machado



Muito bom o primeiro dos dois especiais que a GloboNews preparou sobre Machado de Assis, neste mês em que a morte do nosso autor maior completa cem anos. "Machado de Assis: o bruxo das palavras", transmitido ontem à noite, estava rico visualmente: exibiu imagens da exposição que o Museu da Língua Portuguesa (São Paulo) organizou para o centenário, fac-símiles de cartas enviadas por Machado a amigos e familiares e muitas fotografias do autor, dos seus próximos e do Rio de Janeiro do final do século 19. O conteúdo também estava no ponto, objetivo, reforçando algumas informações já 'batidas' sobre Machado e apresentando outras mais curiosas. Os entrevistados passaram detalhes saborosos sobre a vida do escritor. O jornalista Daniel Piza, biógrafo de Machado, brincou que ele poderia ser considerado um "catálogo de doenças": era epilético, gago, asmático e tinha sérios problemas de visão. Falou também que, em sua juventude, Machado era um sujeito muito afável e espirituoso, que gostava de 'sacanear' os colegas de redação roubando-lhes os chapéus. Na maturidade, porém, ele tendeu mais à melancolia - foi o que comentou o escritor Moacyr Scliar. Machado vivia num estado de espírito que, conforme Scliar, poderia ser hoje descrito como depressivo. O programa também mostrou o caráter autodidata do homenageado, que fazia exercícios de grego e de alemão por conta própria, e salientou que, até hoje, não se sabe quando nem como ele aprendeu a ler e a escrever. Sabe-se, porém, que ele cresceu num ambiente relativamente culto. Seus dois pais eram alfabetizados, o que, para a época, era algo extraordinário, tendo em vista que o analfabetismo no Brasil, na segunda metade do século 19, beirava os 85%. Sobre a 'politização' de Machado, Piza afirmou que o escritor não era exatamente 'politizado' no sentido de expôr seu 'lado' em suas crônicas, de 'subir em palanque' feito seu amigo abolicionista Joaquim Nabuco. Machado preferia as entrelinhas, preferia ser mais sutil. Ele vivenciou fatos históricos muito importantes para o Brasil, como o fim da escravidão e a queda da monarquia, e o especial mostrou uma crônica em que Machado conta ter saído às ruas para comemorar a abolição dos escravos, em 1888 - mas a produção não ressaltou que a proclamação da República, por sua vez, desagradou ao escritor, que era monarquista, como Nabuco. O início da carreira literária do 'bruxo', aos 15 anos, publicando textos nos jornais sob a 'benção' de gente como o escritor Manuel Antônio de Almeida e o editor Paula Brito, também foi abordado, assim como seu casamento com Carolina. Tudo isso entremeado por leituras em off de aforismos e trechos de crônicas do autor. Um prazer de programa.

A segunda parte de "Machado de Assis: o bruxo das palavras", que se concentrará na obra do escritor, irá ao ar no próximo domingo, dia 21. Não percamos.

(Lucas Colombo)

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