quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Que pena, companheiro


O segundo turno foi há quase duas semanas, e eu não comentei sobre o resultado em Porto Alegre, nem em São Paulo. Mas quero falar do Rio de
Janeiro, mesmo que o assunto já tenha, de certa forma, esfriado e que a ascensão de Barack Obama nos EUA seja o grande fato do momento. Quero falar do resultado das eleições no Rio, porque é absolutamente lamentável a derrota de Fernando Gabeira para Eduardo Paes. O verde é um dos pouquíssimos políticos nessepaís dignos de admiração. É sensato e ético. Tem uma bela trajetória, coerente e limpa. Foi guerrilheiro contra a ditadura militar, quando chegou a participar do seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick. Exilado, voltou ao Brasil com a Anistia, em 1979, e começou uma carreira política 'normal'. Fundou o PV e elegeu-se deputado pelo Rio quatro vezes. Amadureceu suas idéias políticas e repensou seu passado radical, rejeitando a violência como forma de luta. Foi para o PT, decepcionou-se com os rumos do partido e voltou para o PV. No Congresso, sempre defendeu propostas avançadas e colocou ética em primeiro lugar. Combateu Severino Cavalcanti e Renan Calheiros. Fez uma campanha limpa para prefeito. Negou-se a sujar a cidade com cartazes e panfletos. Não lançou ataques pessoais. Foi o mais civilizado. Mesmo em um partido pequeno e de pouca estrutura, conseguiu criar um 'movimento' em torno de sua candidatura. Mas acabou perdendo pela diferença mínima de 55 mil votos. Cometeu erros também, é claro. Pensou que o forte apoio de artistas e de formadores de opinião bastaria para aumentar sua vantagem nas pesquisas, esquecendo-se de frisar melhor suas propostas. Perdeu, contudo, principalmente por conta dos ataques de Paes, dos panfletos apócrifos e da exploração de sua gafe sobre a tal vereadora "suburbana". Mas sai da eleição maior do que entrou. Pode pensar em vôos (ou voos) mais altos em 2010. Seria ótimo.

Quanto ao seu adversário, representa o que há de pior na política brasileira. Paes é fisiológico, populista e joga na base do vale-tudo. Trocou de partido trocentas vezes. Começou no PFL, passou para o PSDB e há um ano filiou-se ao PMDB - ou seja, é um político de enorme coerência... Quando deputado, pelo PSDB, fez parte da CPI que investigou o mensalão e era um dos críticos mais contumazes de Lula. Agora, elegeu-se com o apoio do governador Sérgio Cabral e do presidente, para o qual, durante essa campanha, pediu 'desculpas' pelas críticas feitas na CPI. Tudo para ter Lula ao seu lado no segundo turno (francamente...). Com Paes, venceram as velhas práticas politicas brasileiras. Mais uma vez. Ô, país.

(Lucas Colombo)

2 comentários:

Fábio Sidrack disse...

Esqueceste de comentar a sujeira que Sérgio Cabral proporciou, fato que se mostrou decisivo no resultado da eleição carioca, ainda mais se pensarmos na pequena diferença final: o governador tratou de “adiantar” em um dia o feriado do dia do servidor publico (originalmente, dia 28 de outubro, terça feira) para a segunda, dia 29...já viu, né? Feriadão na cidade do RJ= 1 milhão de abstenções...

Anônimo disse...

Sidrack, teu adendo é mesmo muito pertinente, obrigado. De fato, o número de abstenções foi elevadíssimo. É óbvio, mas é isso mesmo: se mais gente tivesse ido votar, o resultado poderia ter sido outro para o Gabeira. E hoje estaríamos um pouco mais satisfeitos.