terça-feira, 28 de abril de 2009
Distinção
Ok, então: os líderes partidários da Câmara dos Deputados, depois de muita pressão da mídia, restringiram o uso de passagens aéreas pelos senhores congressistas. Agora, só deputados e assessores autorizados poderão viajar às custas do erário, e apenas dentro do país. É de se apoiar uma medida (supostamente) moralizadora como essa, mas, mais ainda, é de se lamentar o fato de ser o Brasil um país onde os deputados, em vez de debater e votar temas de interesse nacional, passaram uma semana inteira discutindo se seus parentes e amigos, mesmo sem ligação alguma com o mandato, também poderiam utilizar a cota de bilhetes aéreos a que o parlamentar tem direito... Se fôssemos um país sério, isso jamais ocorreria. O patrimonialismo é a maior praga da política brasileira, e para mudar este quadro é preciso transparência, discussão e conscientização - todos artigos raros por aqui. Embora também tenha resvalado e cedido passagens para familiares, Fernando Gabeira merece distinção, por ter, ao menos, ido a público e reconhecido seu erro, sem tentar relativizar ou sair pela tangente ("as regras não são claras", "não é ilegal, todo mundo faz"..), como a imensa maioria de seus colegas. Ele simplesmente admitiu que errou e se dispôs a trabalhar para que tal erro não continuasse vivo na Casa. Além disso, pretende devolver o dinheiro. Que político brasileiro você já viu fazendo isso? Ainda que embarcando na mesma prática patrimonialista dos outros, Gabeira distinguiu-se pela tomada de consciência. É muito fácil cair na ladainha do "político é assim mesmo, tudo vagabundo", difícil é fazer distinções. E essas, como o caso do deputado carioca, devem ser reconhecidas e saudadas.
(Lucas Colombo)
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