domingo, 29 de novembro de 2009

Impressões bienais - 2009


Pois é. A 7ª Bienal do Mercosul, encerrada h
oje, realmente não empolgou. Em comparação com edições como as de 2005 e de 2007, coerentes, enxutas e instigantes (e, a meu ver, as melhores so far), a seleção deste ano foi irregular e fraca. Talvez por ter sido curada quase que totalmente por um grupo de artistas e, por isso, não ter contado com certo 'distanciamento crítico' na escolha de trabalhos, talvez pelas limitações mesmas das obras, talvez pela escassa diversidade, certamente por tudo isso junto, o fato é que a Bienal não trouxe produções surpreendentes, que suscitassem enigmas ou se destacassem pela plasticidade (com a mostra Desenho das Ideias, no Margs, aparecendo como excessão). Nos armazéns do Cais do Porto, costumeiramente o centro das edições do evento, havia muitos equívocos e pouca coisa deveras intrigante. A areia que ocupava todo o armazém A3 competia com as obras 'de fato'; a "Experiência de Cinema", de Rosângela Rennó, aparentemente interessante, não estava funcionando quando estive lá; o vídeo da argentina Ana Gallardo, com a cantora à frente de uma partitura denunciando a exploração sexual de crianças, não tinha sutileza (e a música era brega); e o módulo lunar de PVC, de Paulo Nenflídio, cá entre nós, não dava para levar a sério. A videoinstalação "Variações sobre o Santo Job", do colombiano José A. Restrepo, foi uma das obras mais faladas, mas o "labirinto de vidro" do também colombiano Gabriel Sierra e a estrutura fóssil do inglês Ryan Gander foram as que mais me provocaram prazer intelectual e estético:



Sob o título "Grito e Escuta", a Bienal preten
dia gerar discussão acerca do 'papel social' do artista, mas não conseguiu. Esta edição serviu mais como gancho para o debate sobre arte contemporânea que se tem travado na imprensa porto-alegrense, desencadeado por um artigo (de tom deselegante, aliás) do historiador Voltaire Shilling, publicado na ZH, chamando de "abominações" os trabalhos que artistas contemporâneos fizeram para a cidade ou cederam a ela depois de participarem de bienais passadas (a "Super Cuia", por exemplo). A discussão, como geralmente ocorre nesse cordial Brasil, ficou no Gre-Nal: de um lado, os defensores xiitas dos "pós-modernos", e de outro, os fundamentalistas das belas artes. Poucas foram as vozes céticas e ponderadas que se manifestaram para dizer o óbvio: arte contemporânea não é, em si, boa ou ruim, feia ou bonita. O que há são trabalhos com mais ou menos valor estético. É claro que existe muita empulhação em arte contemporânea, só que não se pode, preconceituosamente, ignorá-la por completo, descartá-la de modo cabal como fonte de investigações e de interpretações sobre as sociedades e sobre nós, complicados humanos. Ao contrário do que reza o senso comum, gosto se discute, sim, mas com discernimento e elegância, por favor. Que os debates se aprimorem e se aprofundem - e aconteçam sempre. Se é para destacar um 'ensinamento' dessa Bienal, é este aí de baixo, do trabalho "Surplus Reality", feito pelo mexicano Pedro Reyes. Ainda pouco sutil, mas um bom recado.


(Texto e fotos: Lucas Colombo)

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