quarta-feira, 19 de junho de 2019

Auster seduz estranhos



Passado literário? O escritor norte-americano Paul Auster, autor do recente 4321 (Companhia das Letras, 2018), cita um escritor preferido, J. M. Coetzee: "As obras anteriores são como pacotes que a gente se livra pelo caminho; deixamos pela estrada para que outros peguem; as obras só são do escritor durante o processo". Mas, ao dizer isso, Auster (que falou aos gaúchos por videoconferência no evento Fronteiras do Pensamento) não denega o passado e até o evoca para abrandar o fetiche atual pela tecnologia: "Livro em papel é uma tecnologia que funciona bem, os e-books venderam muito nos EUA, agora o mercado esfriou, essa tecnologia não traz nem o número de páginas, só o percentual já lido", ironiza. "O smartphone faz as pessoas pensarem que têm o mundo na palma da mão, acho que o que as redes sociais conseguiram foi colocar online pessoas loucas todas juntas." Admite ainda sofrer para escrever. São oito horas por dia para obter apenas duas páginas, no máximo: "A arte é um presente para o outro, eu escrevo para um outro imaginário, o livro é o momento em que dois estranhos se encontram", filosofa. "Livros, filmes? Todos os povos sempre criaram histórias para se explicar e explicar a origem de todas as coisas. Isso não muda." (Jeison Karnal)

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