domingo, 7 de dezembro de 2008

A bossa, para Leila e Karine


Ainda no embalo das celebrações aos 50 anos da bossa nova (tem mais aqui, aqui e no post abaixo), o MM publica depoimentos de duas cantoras
e compositoras brasileiras bastante influenciadas pelo gênero de Jobim, João Gilberto & cia: a paraense (radicada no Rio) Leila Pinheiro e a gaúcha Karine Cunha. Por e-mail, Leila e Karine mandaram os textos abaixo, revelando o que a bossa nova significa para elas. Confira. (Lucas Colombo)




"Nos meus primeiros anos de vida, encontro a lembrança das primeiras audições de música, que, na minha casa, felizmente, era sempre do mais alto requinte – harmônico, melódico, sob a batuta dos mestres. Grupos vocais moderníssimos para os anos 60 apenas começando: Os Cariocas, Os Farroupilhas, e mais Luis Eça e o Tamba Trio, João Gilberto, Nara, Elis e Jair Rodrigues, Tom, Menescal,
Carlos Lyra, Silvinha Teles, Dick Farney, Dóris Monteiro... todos ali, dentro da minha casa, rodando no LP, encravado num móvel de madeira clara e pés palito. Não teve jeito: ficaram para sempre dentro de mim, moldaram minhas escolhas musicais e são a causa de minha total reverência e submissão às harmonias sofisticadas, intrincadas, aparentemente simples e absolutamente belas.
A bossa nova foi o começo da música em mim. Muito mais do que as canções
feitas no final dos anos 50 e pelas décadas seguintes. Muito além da batida do João. Muito mais do que as canções que ela produziu. Os músicos, poetas, compositores da bossa nova e os que vieram a partir dela são a música na minha vida. São o sentido da minha escolha de ser cantora, intérprete, pianista e, às vezes, compositora.
Melhor do que isso, só se eu tivesse nascido no começo da década de 50."
- Leila Pinheiro (Rio de Janeiro/RJ)



"A bossa nova foi fundamental na minha formação musical, seja como cantora, compositora ou violonista. As riquezas melódica e rítmica desse gênero são uma grande escola para nós, musicistas. Isso sem falar das letras, que trouxeram para a MPB um outro jeito de escrever.
Meu primeiro contato com a bossa nova foi aos 12 anos de idade, quando, por conta própria, comprei umas revistinhas de violão. Lembro-me de uma que só tinha músicas do Tom Jobim. Eu mesma me impus o desafio de tocar aquelas muitas cifras. Depois comprei os songbooks do Chediak e aí descobri e me apaixonei por outras vertentes da bossa, como a música do Edu Lobo, com ares regionais, ou ainda as cômicas do
Carlos Lyra (“Lobo Bobo”, “O Pato”, etc.). Durante muitos anos toquei bossa nova no meu repertório de intérprete, nos bares e happy hours. Ela significa para mim o início da minha relação com música, uma forte influência na música que faço como compositora. E hoje, como professora de canto, a bossa é uma importante ferramenta didática.
São tantas as canções do gênero que eu gosto... mas vou citar algumas que me marcam pela genialidade, seja na composição, na letra ou na melodia – ou, no caso do Tom Jobim, tudo: “Retrato em Branco em Preto”, “Chovendo na Roseira”, “Borzeguim”. E ainda “O Negócio é Amar” (Carlos Lyra/Dolores Duran), “Arrastão” (Edu Lobo/Vinicius de Moraes), “Borandá” (Edu Lobo) e “Reza” (Edu Lobo/Ruy Guerra)."
-
Karine Cunha (Porto Alegre/RS)


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