terça-feira, 5 de agosto de 2008

"Viver", de Yu Hua



No embalo dos jogos olímpicos da China, a seção Vasto Mundo está veiculando um relato de uma viagem que a tradutora e professora Márcia Schmaltz fez pelo interior daquele país. Márcia é gaúcha e vive há anos na China, onde leciona na Universidade de Macau e observa in loco todas as mudanças pelas quais o país passa, em função do seu rápido e intenso crescimento econômico. Crescimento, este, que faz os olhos do mundo todo voltarem-se para o povo chinês com curiosidade. Tal interesse justifica o grande número de livros da chamada nova literatura chinesa que chegam às prateleiras ocidentais. E a versão para o português de um deles é de Márcia. “Viver”, de Yu Hua, já foi publicado em 13 países e sai no Brasil pela Companhia das Letras. O romance bebe na fonte da milenar tradição oral chinesa: um jovem andarilho que perambula pelo interior da China atrás de histórias e de canções folclóricas se depara com Fugui Xu, um senhor muito idoso que passa a lhe contar a tortuosa história de sua vida. O relato do velho configura-se então numa incrível epopéia familiar, que se estende por cinco décadas da história chinesa, desde a libertação do país, ao final da Segunda Guerra Mundial, até a atualidade, passando pela subida ao poder de Mao Tsé-tung e pela Revolução Cultural dos anos 1960-70. O livro foi levado ao cinema pelas mãos do diretor Zhang Yimou (o mesmo de “O Clã das Adagas Voadoras”), em “Tempo de Viver”, de 1994. Em julho passado, a Veja publicou matéria sobre a alta qualidade da prosa chinesa contemporânea, e “Viver” foi citado com destaque. O texto de Isabela Boscov salienta que o romance é um exemplo do bom e ousado uso do “eu”, o pronome “perseguido” pelo regime comunista, na literatura chinesa. “Viver” faz, conforme a matéria, uma dupla de peso com “Meu Nome é Número 4”, de Ting-Xing Ye, também narrado em primeira pessoa (pelo trecho deste disponibilizado no link da revista, percebe-se que é mesmo um relato impressionante). A China ainda tem muito o que revelar ao mundo, e é bom saber que a literatura de lá encontrou sua voz e seu espaço. Continuaremos ouvindo falar muito dela pelos próximos anos.

(Lucas Colombo)

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