terça-feira, 8 de abril de 2014

Sala de cinema



- Certa caretice formal e a supressão de fatos importantes do período abordado da vida da filósofa e escritora impedem “
Hannah Arendt”, de Margarethe von Trotta, de ser considerado um filme especial. Mas ele também não se revela perda de tempo: é adulto e merece ser visto, sobretudo por ilustrar o preço que se paga pela independência intelectual e, com isso, transmitir a necessidade de mantê-la. Para a cultura do compadrio brasileira, constitui-se em um forte recado. Como outro alerta, este especificamente para o momento de relativização política que o país vive, serve uma fala da cena em que a filósofa explica sua famigerada posição quanto ao nazista Eichmann: “Tentar entender não é perdoar”.

- Outro filme “de personagem”, “Blue Jasmine” é quase – porque não tem a carga sexual, p. e. – uma cópia ‘atualizada’ de “Um Bonde Chamado Desejo”, a grande peça de Tennessee Williams, na história de uma ricaça de Nova York que, em decadência material e pessoal após a prisão do marido por fraude financeira, vai morar com a irmã ‘humilde’ e o noivo bronco dela. Por isso, não é imperdível, mas, mesmo quando nota 8, um Woody Allen ainda é superior à maioria do que se vê nos cinemas. Não poupa ninguém, ao mostrar que ambas as irmãs têm limitações e carências e que há pessoas medíocres tanto na classe alta quanto na baixa (sem o simplismo de esta aparecer como vítima daquela). E, como sempre nas produções do diretor, oferece ótimas atuações e parte de um roteiro bem elaborado: Cate Blanchett (foto), merecidamente Oscar de melhor atriz, compõe sem excessos a surtada protagonista, cujo passado conhecemos pelas voltas no tempo na narrativa e pelas informações que os diálogos, ágeis, soltam aos poucos.

- “Eu e Você”, longa que Bernardo Bertolucci lança dez anos depois de “Os Sonhadores”, busca explorar, como esse, jovens decididos a se isolar do mundo. Mas não tem tantas camadas de discussão quanto, nem personagens tão fascinantes. Tais fraquezas contribuem para que o filme não faça pensar em muita coisa, a não ser em como o garoto protagonista é chato e em como sua mãe deve ter ficado secretamente satisfeita ao tê-lo longe por uma semana. Nada que dê vontade de assistir de novo. Um filme menor na carreira do grande diretor de “Último Tango em Paris”, “O Último Imperador”, “Assédio” e, sim, “Os Sonhadores”.

(Lucas Colombo)

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