- Certa caretice formal e a supressão de fatos importantes do período abordado da vida da filósofa e escritora impedem “Hannah Arendt”, de Margarethe von Trotta, de ser considerado um filme especial. Mas ele também não se revela perda de tempo: é adulto e merece ser visto, sobretudo por ilustrar o preço que se paga pela independência intelectual e, com isso, transmitir a necessidade de mantê-la. Para a cultura do compadrio brasileira, constitui-se em um forte recado. Como outro alerta, este especificamente para o momento de relativização política que o país vive, serve uma fala da cena em que a filósofa explica sua famigerada posição quanto ao nazista Eichmann: “Tentar entender não é perdoar”.
- Outro filme
“de personagem”, “Blue Jasmine” é
quase – porque não tem a carga sexual, p. e. – uma cópia ‘atualizada’ de “Um
Bonde Chamado Desejo”, a grande peça de Tennessee Williams, na história
de uma ricaça de Nova York que, em decadência material e pessoal após a prisão
do marido por fraude financeira, vai morar com a irmã ‘humilde’ e o noivo
bronco dela. Por isso, não é imperdível, mas, mesmo quando nota 8, um Woody Allen ainda é superior à maioria do que se vê nos cinemas. Não poupa ninguém,
ao mostrar que ambas as irmãs têm limitações e carências e que há pessoas
medíocres tanto na classe alta quanto na baixa (sem o simplismo de esta aparecer
como vítima daquela). E, como sempre nas produções do diretor, oferece ótimas
atuações e parte de um roteiro bem elaborado: Cate Blanchett (foto), merecidamente Oscar de melhor
atriz, compõe sem excessos a surtada protagonista, cujo passado conhecemos
pelas voltas no tempo na narrativa e pelas informações que os diálogos, ágeis,
soltam aos poucos.
(Lucas Colombo)
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