Assim como o Oscar exagerou ao dar-lhe o prêmio máximo, “Argo” exagera no que expõe. Ao apresentar a história do plano montado pela CIA em parceria com produtores de Hollywood, para retirar de Teerã seis diplomatas americanos que escaparam da invasão da embaixada de seu país, em 1979/1980, o longa parece querer mostrar o cinema como um trabalho salvador, ou como fonte de patriotismo – ou seja, como algo além do que é: entretenimento ou arte. Autoelogio é sempre irritante.
O filme é regular ao revelar um pouco do funcionamento dos órgãos de inteligência do governo dos Estados Unidos. O que está em segundo plano, porém, tira a força da narrativa principal. As disputas internas na CIA pelo comando e realização da operação e o dilema do agente que se sente culpado por não se dedicar ao filho e à esposa, porque seu trabalho o absorve, são manjados subterfúgios. Se o enredo fosse só isso, sem a abordagem do fato histórico inusitado, “Argo” definitivamente seria um filme sem importância.
Mas não há dúvida de que o caso de 1979 merecia ser contado. O mérito de “Argo” é tornar conhecida por um público maior essa vitoriosa passagem da história do serviço de inteligência e da diplomacia dos EUA, tão em baixa nos últimos tempos. Basta lembrar a morte, no ano passado, do embaixador americano na Líbia, Christopher Stevens, e de três funcionários do Departamento de Estado, episódio assumido pela então secretária Hillary Clinton como “falha de segurança” no consulado. Com seu filme, Ben Affleck dá uma forcinha para a autoestima de seu povo, contando uma história em que no final tudo acaba bem devido à astúcia das autoridades do país.
(Rafael Fais)
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