quarta-feira, 10 de abril de 2013

Mais dois



Safra boa, a do Oscar deste ano. Mas não realmente para fartar-se.

O Rafael já comentou “Argo”. Comento outros dois indicados:

- “Zero dark thirty”, de Kathryn Bigelow, tem, como o admirável título anterior da diretora, “The hurt locker”, o mérito de ser tenso, visualmente sintético (só com um plano de um nativo ou de uma estrada, sem diálogo ou off, já entendemos o que ela quer informar), bem dirigido (a sequência da invasão da casa de Bin Laden é meticulosa), não fazer concessões emotivas (nada de “em nome do nosso grande país”, etc.), nem ter uma dramaturgia ‘fácil’ – não há disputa de mocinhos e vilões, nem final ‘feliz’, nem uma historinha de amor, mesmo que a protagonista, Maya (Jessica Chastain), apareça tão solitária. Merece aplausos, mas não de pé como, presumivelmente, obteve dos críticos de cinema. Ao contrário de “The hurt locker”, não é tão reflexivo, e o name-dropping de membros da Al-Qaeda cansa. Algumas cenas, como a da brincadeira com macacos, parecem desnecessárias. Só nos últimos cinco minutos, dedicados à reverberação que a caçada a Bin Laden provoca em Maya, que o filme torna-se o que deveria ter sido desde o começo. Mas quem acha que a produção é pró-tortura viu-a apressadamente ou com o botão de antiamericanismo ligado, atitude ainda muito comum em nossa crítica.

- Michael Haneke é um dos três maiores diretores de cinema atuais – os outros? Almodóvar e Woody Allen –, e seu “Amor”, Melhor Filme Estrangeiro, é realmente tudo isso que disseram: um retrato-duro-da-degradação-física-e-mental-de-uma-pessoa-no-fim-da-vida. Sua crueza fez-me lembrar “A Morte de Ivan Ilitch”, de Tolstói, mas é claro que não se equiparam, etc. etc. O cinema sem concessões de Haneke deve, obviamente, ser saudado, ainda mais nesta época de grandes suscetibilidades das plateias, em que se procura adoçar tudo. Mas “Amor” – e aqui, então, ao contrário do que comentaram – não é “de fazer o espectador sair transtornado do cinema”, nem o melhor do diretor (ainda é “Caché”) ou um dos melhores ou mais originais dos últimos anos. Terminei-o com a sensação de já ter visto alguns filmes com essa mesma abordagem antes...

(Lucas Colombo)

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