terça-feira, 29 de agosto de 2017

A grande beleza (que resta)




O filme mais recente do canadense Denys Arcand, diretor do definitivo As Invasões Bárbaras (2003), teve lançamento discretíssimo no Brasil, provavelmente por causa da recepção fria que obteve de público e crítica internacionais. É lamentável que não tenham notado que O Reino da Beleza vale a pena. Arcand parece tê-lo feito (cada filme dele contém um ceticismo sobre seu tempo que permite pensar isso) para resistir ao embrutecimento generalizado, para convidar-nos a contemplar e valorizar o pouco de beleza que ainda há no mundo. Porque há, e ele a mostra: beleza da natureza, das cidades, das pessoas, das coisas simples da vida. É de uma elegância total o trabalho, inclusive no ritmo narrativo e nos diálogos. E, com a trama banal de um homem dividido entre a mulher e a amante, não vai muito além disso. Nem precisava. Buscar o belo, hoje, é um gesto ousado (sim, como foi a busca do “choque” décadas atrás) que já faz por si só uma criação artística se destacar na paisagem. Ao contrário da visão de terra arrasada que expôs no título anterior, A Idade das Trevas (2007), o diretor nos diz agora que a beleza ainda é possível. Ficou mais ingênuo? Não: mais sereno. Vejamos Denys Arcand, vejamos a beleza, e reflitamos sobre tudo isso.

(Lucas Colombo)

Nenhum comentário: