quarta-feira, 30 de agosto de 2017

O que estou lendo


Começa aqui uma série de posts em que colunistas e colaboradores do MM vão, brevemente, comentar a "Reunião de folhas impressas presas por um lado e enfeixadas ou montadas em capa" (obrigado, Aurélio) que seus olhos percorrem no momento.



- Reli Dom Casmurro, do Machado, para a pós-graduação. Não acredite naquele tom confessional de Bentinho! Capitolina era mais mulher do que ele, homem. Foi essa a traição de Capitu. Dom Casmurro era sociopata. Podia estar em um filme do recém-falecido Tobe Hooper (ou servindo chá com veneno em um romance de Agatha Christie). A fixação pelos olhos de Escobar - e pelos braços da esposa - sempre darão o que falar. Ah... Obrigar a ler a primeira fase de Machado, romântica, na escola, devia condenar qualquer professor a dividir uma cela com o  carrapato do José Dias. De quebra, o docente seria amarrado e exposto a duas horas da (massacrante, mas não elétrica) História dos Subúrbios. Jeison Karnal



- É seguramente a história mais intensa - e triste - do futebol brasileiro. Muito bem contada por Marcos Eduardo Neves, que tabulou um vasto material sobre Heleno de Freitas, um dos maiores artilheiros do Botafogo. Quem gostou da biografia de Garrincha, escrita por Ruy Castro, vai aprovar essa também. Vaidoso e encrenqueiro, de trajetória marcada por excessos com álcool e drogas, o craque morreu em um manicômio, aos 39 anos. Foi tema de diversas crônicas de grandes escritores e jornalistas - um deles, Armando Nogueira, resumiu assim a trágica figura: "Heleno de Freitas morreu, sem gestos, de paralisia progressiva, e descansa, hoje, no cemitério de São João Nepomuceno, onde nasceu um dia para jogar a própria vida num match sem intervalo entre a glória e a desgraça". Biografia que fala muito mais do que futebol. Lucas Barroso



- Voltei a páginas d'O Mal-Estar na Cultura, de Freud, motivado pela tensão política dos tempos. O livro é fundamental para entender o fervor religioso com que tanta gente defende um partido ou ideologia. Freud postula que a perda do amparo dos pais, quando viramos adultos, nos faz inconscientemente procurar "substitutos" deles. Religião, ideologia ou vícios (cigarro e álcool, p.e.) funcionam, para muitos, como substitutos. Precisamos de uma bengala emocional, um amparo espiritual que nos faça aguentar os trancos da vida adulta, e religião ou ideologia proporcionam um sentido, uma força, àqueles que as adotam. Defendem-nas, ainda que confrontados com fatos negativos a respeito, para não desmoronarem, porque a vida sem elas equivaleria a cair no vazio. Sair da infância e amadurecer é um processo lento e doloroso. Eis a explicação para muitos comentários exaltados sobre política que aparecem nas nossas timelines de redes sociais. Lucas Colombo

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