terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

MM Não Recomenda - Roma, de Alfonso Cuarón + MM Recomenda - A Esposa, de Björn Runge



Os gringos até podem cair nessa de que Roma, lançado recentemente pela Netflix e concorrente ao Oscar, é uma obra-prima do cinema moderno. Não é. Mas eles acreditarem nisso, tudo bem. O que assusta é que nós estejamos repercutindo essa falácia. No Brasil, temos diversos exemplares de Roma. É um filme que reproduzimos aos montes, desde o Cinema Novo. Todo ano tem uns dez, no mínimo. Recentemente, tivemos os didáticos Que Horas Ela VoltaCasa Grande, descrevendo a relação entre pobres e ricos. A história de Roma é a batida via crúcis do miserável. Em que ele é, acima de tudo, um forte. O desafortunado suporta as agruras do mundo, sempre meio alienado, e segue em frente. Pois a vida é assim mesmo. Os bem vividos são os culpados, os alienados de verdade, que não enxergam a real situação das coisas. O pobre vive a História. O rico só serve para narrá-la. Roma é um dramalhão frio, que se passa na Cidade do México, década de 70, durante o truculento governo do presidente Luis Echeverría Álvarez, considerado uma ditadura perfeita por Mario Vargas Llosa. Narra a rotina de uma empregada doméstica de família. O pai do clã some, restando às mulheres da casa tomarem conta de tudo. O motivo da fuga só é explicitado no fim. E aí está uma boa sacada. Somente aí. Todo o resto é lugar-comum para nós, terceiro-mundistas. Ao longo de duas horas, ficamos diante da mesma estética de um filme nacional típico. A lentidão de acontecimentos, a trilha insignificante, a culpa burguesa do diretor (o mexicano Alfonso Cuarón, mas poderia ser algum Moreira Salles, não faria diferença), pesando no roteiro. O diferencial para nossos filmes, e que piora as coisas, é que Roma é rodado em um cafona preto e branco. Aquela fotografia pretensiosa (Salve, Sebastião Salgado!). Entretanto, nem tudo é negativo. É preciso também ver o lado bom. E a vantagem de Roma para outros filmes enfadonhos é que ele está disponível somente no catálogo da Netflix. Basta dar um stop e escolher outro. (Lucas Barroso)


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A Esposa é um filme de pouco brilho, do ponto de vista formal. Narrativa quadradinha, convencional, com planos bonitos, diálogos afiados e grande atuação de Glenn Close (merecidamente a favorita ao Oscar de melhor atriz). Mas como faz pensar sobre questões com que toda pessoa que vive de escrita se defronta. Se alguém copidesca o texto de outro, quem é o verdadeiro autor? Como ver um incompetente ganhar elogios ou prêmios imerecidos e não nutrir ressentimento por isso? Se um escritor não conseguir ser publicado ou lido, deve desistir ou insistir? Não há respostas fáceis, e o filme não oferece nenhuma. O que é bom. (Lucas Colombo)

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