sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

MM Recomenda - Lacombe, Lucien, de Louis Malle



Lacombe, Lucien, filme que completa 45 anos de lançamento neste 2019, é o melhor de Louis Malle (1932-1995). Suas riqueza e força estão na abordagem “neutra” (entre aspas, porque a opção pela “neutralidade” faz sobressair-se uma crítica a todos os lados envolvidos) de um fato político espinhoso: a colaboração de franceses à ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Malle e o escritor Patrick Modiano, com quem elaborou o roteiro, não condenam nem absolvem o personagem, um rapaz simplório e ignorante que adere aos nazistas não por ser exatamente “mau”, mas porque isso o faz se sentir importante e poderoso pela primeira vez na vida. Não defendem tese, não tentam justificar nada; somente contam a história, em toda a sua ambiguidade, a ambiguidade tão esperada em uma obra de arte. Lucien causa nojo, mas também pode causar pena (ser perdoado? Jamais). É uma abordagem quase impossível de se obter, por exemplo, da maioria dos cineastas brasileiros, que infantilmente insistem no esquematismo, em identificar “vilões”, fazer dramaturgia brechtiana para “conscientizar as plateias”. “Há pessoas com que não se pode discutir, gente que navega eternamente na idealização e na mitologia”, disse Malle sobre seu filme, em entrevista de 1975 mas ainda atual. Tão atual quanto a ideia que emana de Lacombe, Lucien: o problema não é ser de esquerda ou de direita, é ser estúpido. (Lucas Colombo)

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